Depois do desabafo de ontem e falando mais um pouco da língua italiana, é sempre muito difícil aprender gírias e expressões quando ainda não está vivendo no cotidiano o idioma. Nos livros geralmente encontramos somente a linguagem mais formal e tal. No meio das minhas buscas pela internet, achei uma tese de Doutorado de uma aluna de Letras da USP, muito interessante, de expressões idiomáticas.
A fonte de pesquisa foi obras de Gianni Rodari, autor italiano de livros infantis, que foi importante jornalista e estudioso de pedagogia, tendo recebido o Prêmio Andersen de Literatura Infantil em 1970.
Fiquei até com vontade de ler os livros dele. Italo Calvino (um dos mais importantes escritores italianos do século XX), disse sobre Rodari: “Gianni Rodari sapeva sbizzarrire la sua fantasiacon lo slancio più estroso e la più felice leggerezza”.
Em seu livro Favole al Telefono, Rodari publicou um conto chamado “Il buon Gilberto”. Que mostra como as expressões idiomáticas podem causar confusão, pela má interpretação.
Il buon Gilberto
Il buon Gilberto era molto desideroso di imparare e perciò stava sempre attento a quello che dicevano i grandi.
Una volta sentí dire da una donna: – Guardate la Filomena come vuol bene alla sua mamma: le porterebbe l’acqua nelle orecchie.
Il buon Gilberto rifletté: “Magnifiche parole, le voglio próprio imparare a memoria”.
Qualche tempo dopo la sua mamma gli disse: – Gilberto, vammi a prendere a un secchio d’acqua alla fontana.
– Subito, mamma, – disse Gilberto. Ma intanto pensava: Voglio mostrare alla mamma quanto le voglio bene. Invece che nel secchio, l’acqua gliela porterò nelle orecchie”.
Andò alla fontana, ci mise sotto la testa e si riempí d’acqua um orecchio. Ce ne stava quanto un ditale e per portarla fino a casa il buon Gilberto doveva tenere la testa tutta storta.
– Arriva quest’acqua? – brontolò la mamma che ne aveve bisogno per fare il bucato.
– Subito, mamma, – rispose Gilberto, tutto affannato. Ma per rispondere drizzò la testa e l’acqua uscí dall’orecchio e gli andò giú per il collo. Corse alla fontana a riempire l’altro orecchio: ci stava esattamente tanta acqua come nel primo e il buon Gilberto doveva tenere la testa storta dall’altra parte e prima di arrivare a casa l’acqua si era tutta versata.
– Arriva quest’acqua? – domandò la mama stizzita.
“Forse ho le orecchie troppe piccole” pensò rattristato il buon Gilberto. Intanto però sua madre aveva perso la pazienza, credeva che Gilberto se ne fosse stato a giocherellare alla fontana e gli allungò due scapaccioni, uno per orecchio.
Povero buon Gilberto.
Si prese in santa pace i due scapaccioni e decise che un’altra volta avrebbe portato l’acqua col secchio.
Hahahahahah. Muito bom né?
Traduzindo, para quem não está com o italiano tão afiado, porém adaptando o conto à expressão brasileira:
O bondoso Gilberto
O bondoso Gilberto gostava muito de aprender e por isso estava sempre atento àquilo que diziam os adultos.
Um dia ouviu uma mulher dizer: – Olhem a Filomena, como ela gosta da mãe: faz das tripas coração.
O bondoso Gilberto refletiu: “magníficas palavras, vou guardá-las na memória”.
Algum tempo depois sua mãe lhe disse: – Gilberto, vá até o açougue para comprar tripa.
– Já estou indo, mamãe – respondeu Gilberto. Mas no caminho pensou: “Quero mostrar para a minha mãe como eu gosto dela. Vou fazer das tripas coração para impressioná-la”.
Foi até o açougue e pediu tripa. Segurou-a em forma de coração e foi andando até em casa. – Essa tripa vem ou não vem? – resmungou a mãe que estava esperando para fazer o almoço. – Estou chegando – respondeu Gilberto, todo apressado. Mas ao responder, soltou as mãos e a tripa caiu no chão. Voltou até o açougue e pediu novamente tripa: fez um coração e foi caminhando lentamente para casa – Essa tripa vem ou não vem? – perguntou a mãe, irritada.
“Talvez minhas mãos sejam pequenas demais”, pensou Gilberto ao deixar cair novamente a tripa no chão. Enquanto isso porém sua mãe tinha perdido a paciência; imaginando que Gilberto estivesse brincando todo esse tempo, lhe deu dois sopapos, um em cada braço.
Coitado do bondoso Gilberto.
Tomou sem reclamar os sopapos e decidiu que, na próxima vez, traria a tripa embrulhadinha no papel do açougue.
A diferença é que a expressão italiana diz, ao pé da letra, carrega água nas orelhas, e Gilberto vai buscar água para a mãe, e já podem imaginar o que ele fez, né?
Por essas e outras, tomei a liberdade de colocar essas expressões aqui. Talvez algumas nem se use mais, mas é interessante perceber que algumas são bem parecidas às nossas.
Vai que um dia ouvimos alguma destas, pelo menos já dá pra ter uma idéia do que significa né?
- Affari d’oro e d’argento – Fazer um bom negócio
- A mani vuote – De mãos abanando
- Andare all’assalto – Pronto para o ataque
- Andare fine in fondo – Ir até o fim
- Andare via liscio, andare d’incanto – Prosseguir sem obstáculos
- Andarsene per i fatti suoi – Ir cuidar da própria vida
- Arricciare il naso – Torcer o nariz (mostrar desagrado)
- Attaccare l’asino dove vuole il padrone – Fazer o que manda o chefe
- Avere le mani d’oro – Ter mãos de fada
- Avere una lavata di capo - Levar uma bronca
- Avere sulla punta della língua – Estar na ponta da língua
- Battere il ferro finché è caldo – Aproveitar-se da situação
- Bianco come um fantasma – Pálido, branco como um papel
- Battere il ferro finché è caldo – Aproveitar-se da situação
- Bianco come um fantasma – Pálido, branco como um papel
- Che diavolo ou Che razza – Que diabos!
- Che seccatura! – Que saco!
- Chiudere gli occhi – Fingir não ver ou morrer
- Combinarne di tutti i colori – Aprontar o maior fuzuê
- Con la bocca aperta – Surpreso, espantado
- Crollare il capo – Sacudir a cabeça (em desaprovação)
- Da cosa nasce cosa – Uma coisa puxa a outra
- Dare di volta il cervello – Perder a cabeça
- Dare retta – Dar bola (dar atenção ou confiança)
- Darsi pensiero – Esquentar a cabeça (se preocupar)
- Dormire come un ghiro in letargo – Dormir como uma pedra
- Due cappeli non fanno primavera – Uma andorinha só não faz verão.
- Esserci sotto qualquosa ou Qui gatta ci cova – Aí tem coisa! Aí tem dente de coelho.
- Essere ai sette cieli ou Essere al settimo cielo – Estar no sétimo céu (no paraíso)
- Essere ancora in fasce – Mal saiu das fraldas, Estar ainda fedendo a cueiro
- Essere a portata di mano – Estar ao alcance das mãos
- Essere a terra – Estar arrasado
- Essere um gufo – Parecer um urso (mal educado, pouco sociável)
- Essere più buono del pane – Ser um anjo (generoso, ser excelente pessoa)
- Faccia di bronzo – Cara de pau
- Faccia lunga ou Essere scuro nel volto – Estar de cara amarrada, carrancudo
- Falso come Giuda – Como Judas (falso, traidor)
- Fare di testa sua – Fazer o que der na telha
- Fare i capricci – Fazer manha
- Fare schioccare la língua - Lamber os beiços
- Far fagotto – Sair chispando, Fugir em disparada
- Far finta di non vedere – Fingir não ver
- Farla finita – Acabar logo com isso
- Farsela addosso ou Farsi sotto dalla paura – Mijar nas calças, revelar-se medroso
- Farsi vivo – Dar o ar da graça (aparecer)
- Far venire i nervi – Dar nos nervos (causar irritação)
- Ficcare il naso negli affari altrui - Meter o nariz onde não é chamado
- Finire con le chiacchiere – Deixar de conversa mole
- Fregarsi le mani – Esfregar as mãos (mostrar-se muito satisfeito)
- Gettare polvere negli occhi – Iludir
- Girare la testa – Sentir a cabeça girar (zonzo)
- In carne ed ossa – Em carne e osso
- Infischiarsene – Não dar a mínima
- In gamba – Em forma
- Leccarsi le dita – Lamber os beiços
- Mangiare il risotto in testa – Fazer de gato-sapato (ridicularizar, tratar com desprezo)
- Mano bucata – Mão aberta (gastador)
- Mettere la mano sul fuoco – Pôr a mão no fogo
- Molto fumo e poco arrosto – Muita fumaça mas nenhum fogo
- Non aprire bocca – Permanecer calado
- Non aprire bocca – Permanecer calado
- Non battere ciglio – Sem pestanejar (sem manifestar qualquer dúvida)
- Non capire un’acca (non capire niente) – Não entender nada
- Non fare torto – Não fazer desfeita
- Occhio nudo – A olho nu
- Ogni cosa a suo tempo – Cada coisa em seu tempo
- Passare a miglior vita – Passar desta para melhor (morrer)
- Per filo e per segno – Timtim por timtim, em detalhes
- Perdere la testa – Perder a cabeça
- Perdersi in chiacchiere – Repetir a lengalenga
- Perdersi in chiacchiere – Repetir a lengalenga
- Più morto che vivo – Mais morto que vivo (desanimado)
- Portare in palma di mano – Tratar a Pão de Ló (com todo carinho e cuidado)
- Portare l’acqua con gli orecchi, levarsi anche il pane di bocca per uno; scodellar (gli) la pappa; smussare gli angoli; far ponti d’oro – Como em português: “tirar o pão da própria boca para dar ao outro” ou “fazer das tripas coração” (com a idéia de fazer tudo por alguém, ser capaz de tudo por essa pessoa);
- Portare l’acqua con gli orecchi, levarsi anche il pane di bocca per uno; scodellar (gli) la pappa; smussare gli angoli; far ponti d’oro – Como em português: “tirar o pão da própria boca para dar ao outro” ou “fazer das tripas coração” (com a idéia de fazer tudo por alguém, ser capaz de tudo por essa pessoa);
- Prendere per il naso – Tirar um sarro
- Prestar orecchio – Ser todo ouvido (prestar atenção ao que se diz)
- Prestar orecchio – Ser todo ouvido (prestar atenção ao que se diz)
- Punto e basta! – E ponto final
- Restare com le mani in mano ou Estare col naso per aria – Viver de papo para o ar (estar sem fazer nada)
- Restare com le mani in mano ou Estare col naso per aria – Viver de papo para o ar (estar sem fazer nada)
- Restare di gesso – Como uma estátua de gesso, sem expressão
- Ridere dietro ou Ridera alle spalle – Fazer chacota, caçoar, ridicularizar
- Ridere dietro ou Ridera alle spalle – Fazer chacota, caçoar, ridicularizar
- Rientrare sulla retta via – Levar ao caminho do bem
- Rimboccarsi le maniche – Arregaçar as mangas
- Saltare e ballare dalla gioia – Pular de alegria
- Sano come un galletto ou Essere sano in lungo e in largo – Vender saúde
- Sano come un galletto ou Essere sano in lungo e in largo – Vender saúde
- Saperla lunga – Ser macaco velho (astuto, esperto)
- Scaldare il banco – Esquentar o lugar (permanecer muito tempo no mesmo lugar)
- Scaldare il banco – Esquentar o lugar (permanecer muito tempo no mesmo lugar)
- Scoppiare a piangere – Desandar a chorar
- Sgranchirsi le gambe ou Fare due passi/ Fare quattro passi – Desenferrujar as pernas, dar um passeio
- Solitario come um cane – Sozinho, Abandonado como um pobre
- Solitario come um cane – Sozinho, Abandonado como um pobre
- Spalancare gli occhi – Arregalar os olhos
- Strapparsi i capelli – Arrancar os cabelos
- Strizzar l’occhio – Dar uma piscada (como cumplicidade ou maliciosamente)
- Tagliare la testa al toro – Cortar o mal pela raiz
- Tener d’occhio – Estar de olho (vigiando)
- Tenere duro – Aguentar firme
- Tener d’occhio – Estar de olho (vigiando)
- Tenere duro – Aguentar firme
- Torcersi le mani – Morder os lábios (mostrar preocupação ou desgosto)
- Venire al dunque ou venire al sodo – Falar sem rodeios, ir direto ao assunto
- Venire fuori dalle orecchie – Sair pelos olhos (estar empanturrado, comer muito)
- Venire i brividi – Dar arrepios
- Visco come un pesce persico – Mais saltitante do que nunca (agitado, empolgado)
- Voltare la schiena – Virar de costas (demonstrar descontentamento ou desprezo)
- Voltare la schiena – Virar de costas (demonstrar descontentamento ou desprezo)
Divirtam-se. Até a próxima.
Mille baci.
Alguem sabe o significado de "Sempre quello quarantotto"
ResponderExcluirSempre quello quarantotto, quarantotto sempre quello.
ExcluirAquilo que é sempre igual, nunca muda.